Olhos claros, corpo magro, tatuagem... Eu queria entender: quais são as regras e vantagens desse jogo interminável?
A ditadura da beleza, cada vez mais, faz novas vítimas e novos ícones.
A última moda é a ceratopigmentação, a famosa mudança na cor dos olhos, procedimento ao qual se submeteu Andressa Urach.
A modelo, que quase morreu em 2014 por complicações causadas pela aplicação de hidrogel, cortou a língua como afronta aos moralistas e, hoje, em sua última saga (até aqui), realizou o sonho de infância: ter olhos azuis.
Então, me indaguei... Meu padrão é o que vejo no espelho ou o que enxergo pelos olhos azuis alheios?
Resgatando vídeos antigos, lembrei-me do caso de Luanna Rodrigues, que desabafou no TikTok e viralizou ao fazer uma autocrítica severa, pedindo ajuda para aprender a se gostar, por se achar feia em demasiados aspectos.
Particularmente, um relato triste e, seguramente, um dos mais profundos que já assisti.
Lembrei também do relato da atriz Ingrid Guimarães, que só fazia papéis secundários: amiga maluca, secretária ou empregada desengonçada, por ter uma beleza considerada “exótica”, segundo a própria.
E da maquiadora Mari Maria, que contou no programa The Noite como é insultada por suas sardas, sofrendo críticas masculinas e femininas por algo genético, qual muitos consideram uma característica bela.
Enfim... Mas não são só as mulheres os alvos. Os homens também, claro, embora em proporção bem menor.
Sem contar que noventa por cento de nós não se abala... a não ser que uma mulher diga.
Não é verdade? Aí está: cheguei ao ponto. É hora de responder às perguntas lá do início.
As pessoas almejam o impossível para terem a sensação do interminável.
Afinal: andando, eu nunca paro; não tendo, eu nunca tenho; não sendo, eu nunca sou.
Quando aceitaremos que não somos o que sonhamos, mas sim o que realizamos?
Fria, essa reflexão, eu sei. Mas ponha no papel: você será lembrado(a) por ser um bom amigo ou pela sua espinha na foto dos quinze anos?
Eu, por exemplo, queria ser um guitarrista cabeludo.
Sou guitarrista, e não precisei ser cabeludo para isso.
Voltando ao mundo externo: Andressa Urach me parece ser uma pessoa boa, que pensa no próximo.
Simples, apesar da extravagância, mas que procura no espelho a sua paz.
Projeta no outro um reflexo tão inferior, que precisa se igualar para não revelar sua verdadeira beleza.
Quantas mulheres olham para uma modelo e dizem: “Que linda.”
E ela responde, em silêncio: “Ainda não tenho a boca preenchida.”
Quantos homens a desejam, e ela pensa: “Preciso me reinventar. Vou fazer um procedimento desnecessário para ser notícia.”
Não sou contra procedimentos estéticos, com uma simples regra: se for bom para a sua autoestima, e não por causa de um julgamento, um olhar torto ou comentário maldoso.
Isso diz mais sobre o caráter de quem julga do que sobre a sua “imperfeição”.
Seria eu, então, mau-caráter por julgar os novos olhos azuis da Andressa, já que isso elevou sua autoestima?
Talvez.
Mas quase morrer já não foi aviso suficiente?
Agora, correr o risco de cegueira não liga um alerta?
Uma Barbie sempre será admirada por ser moldada no anseio do comum.
Ainda acha que é feia por ser natural? Então, vamos lá:
Quantas mulheres você conhece com cabelo cacheado ou curtinho?
Com olhos pretos?
Com sorriso de dentes irregulares?
A mais baixa ou mais alta do grupo?
A mais gorda ou mais magra? Com nariz grande? E por aí vai...
Lembrou de alguém ao ler isso? Pois bem. Acho que esse é o critério: a pessoa assumiu ser única, fora do “padrão” e por isso foi lembrada.
Assumiu o que ninguém mais tem ou vê.
Teve a coragem de ser linda por seus defeitos, e não por atributos alheios.
Se te faz mal, mude.
Se te causa estranheza, assuma.
Teste o seu limite.
Encare o espelho e não veja uma bruxa, enxergue uma vilã necessária para uma boa história.
Arriscar ser “exótica” levou Ingrid Guimarães a se tornar uma atriz padrão Globo.
Ser a mais sardenta fez de Mari Maria uma das mulheres mais bem-sucedidas em seu ramo.
E você? Está disposto(a) a malhar, fazer dieta, tudo isso só para ter o “corpo perfeito” do próximo verão?
Ou melhor: manter o resto do ano em prol da saúde?
Se não está a fim, tá tudo bem.
Afinal, o corpo é apenas mais um corpo.
O tempo passa, e as rugas são as marcas do imperfeito mais perfeito que existe: a sabedoria que nenhuma juventude pode comprar.
Vamos parar com a ilusão nórdica e sermos um pouquinho mais nós.
Se você faz cosplay de Thor,
analise além dos seus olhos fakes.
Assuma seu castanho e evite ficar cego com sua autodistorção.
Em vez de perguntar “Estou bonita?”, pergunte:
“Estou sã?”
Não existe nada mais sexy do que sentir uma boa energia.
Observação: Foram usadas referências para exemplificar os limites dos procedimentos estéticos e da autoavaliação.
Este texto não tem a intenção de julgar atos, escolhas profissionais, religiosas e, muito menos, a mulher.