Romy é uma empresária de sucesso, que encontra em seu estagiário a oportunidade de realizar fantasias rejeitadas pelo marido. Mãe de duas filhas e presa ao retrato da família exemplar, sua maior frustração é não ter orgasmo com o homem no qual está casada há 19 anos.
Esta é a premissa de "Babygirl" - filme da diretora holandesa Halina Reijn -, estrelado por Nicole Kidman, Harris Dickinson e Antonio Banderas, que acaba de chegar aos cinemas do Brasil.
Aos 57 anos, Kidman, uma das atrizes mais premiadas do mundo e indicada cinco vezes ao Oscar, enfrenta mais um desafio em sua carreira, interpretando uma mulher complexa e cheia de nuances. Não à toa, foi escolhida, em 2024, a melhor atriz no Festival de Veneza. Entretanto, perdeu para Fernanda Torres, pelo filme "Ainda estou aqui", o Globo de Ouro na categoria de atuação feminina de drama.
Diretora de longas como "Instinto" (2019) e "Morte. Morte. Morte" (2022), Reijn ousa em explorar a submissão, vista, por homens e mulheres, como obscena, imoral e impura. No entanto, aqui, é chave de um roteiro conciso e perspicaz sobre moralismo e suas infinitas interpretações.
Samuel, vivido por Dickinson, despe Romy de seus preconceitos e a enxerga através, libertando os fantasmas de uma esposa incompreendida e, falsamente, comprometida consigo mesma.
Quanto a trilha, um dos pontos altos do filme, cada ato é, minuciosamente, moldado por canções que criam atmosferas. É o caso de "Never tear us apart", do INXS, e "Father figure", do inesquecível George Michael. E acredite, todas coadjuvam na composição de cenas brindadas por atuações pungentes.
Por fim, "Babygirl" recebeu o título que precisava ter e, até por isso, não ganhou tradução em português. Todavia, pelo desempenho intrínseco da atriz protagonista, merecia chamar-se "Nicole!"