Divertido, excitante, ágil, subversivo e deliciosamente maluco. Assim é “Anora”, novo filme do diretor Sean Baker, o mesmo de “Projeto Florida” e do badalado “Tangerina”.
Ainda não assisti todos os filmes indicados ao Oscar deste ano, até porque alguns ainda não estrearam no Brasil. No entanto, assim que “Anora” terminou, foi inevitável não pensar: “Puxa!”.
Indicado a seis estatuetas douradas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, incluindo melhor filme, diretor e atriz, o longa conquistou minha torcida, entre vários motivos, por ser genuíno e me fazer querer participar da história de personagens excentricamente reais.
Vivida pela excelente Mikey Madison, a protagonista, que leva o nome do filme, é uma stripper estadunidense, que encanta homens de todas as idades por sua beleza e seu desprendimento. Certa noite, ela conhece Ivan (Mark Eydelshteyn), herdeiro de um oligarca russo endinheirado, e, após alguns dias de convivência regados a festas, drogas e bebidas, casam-se em Las Vegas da maneira mais inconsequente possível. O problema é que o casamento só ficou entre eles. Ou seja, sem o consentimento dos pais do noivo.
A partir daí, uma sucessão de desencontros e situações inesperadas iniciam-se, arrancando risos de quem está assistindo. As certezas passam a ser questionadas e o que se vê é um circo de confusões. Isso porque, ela acredita que casou-se com um príncipe de conto de fadas, ele foge para não ser levado de volta à Rússia e os capangas da família... bem, estes não sabem o que fazer para apagar o incêndio.
Por falar em capangas, Toros (Karren Karagulian) e Garnik (Vache Tovmasyan) lembram muito “Os Trapalhões”, sitcom liderado por Renato Aragão. Sim, são atrapalhados, falastrões e juntos entregam ótimas cenas, como a incansável busca pelo riquinho fujão por toda a comunidade russa de Nova York. Entretanto, quem rouba a atenção, conquistando gradativamente espaço ao longo do enredo, é Igor. Interpretado por Yura Borisov (indicado a melhor ator coadjuvante por este papel), seu personagem, um jagunço observador e comedido, vai, aos poucos, ganhando destaque ao aproximar-se de Ani (como a protagonista gosta de ser chamada). Não à toa, a certo ponto, o diretor passa a filmá-los no mesmo enquadramento, porém um em cada canto da tela, como se a barreira entre eles precisasse ser quebrada. E por falar em Eydelshteyn, como aqui já citado por seu Ivan, o ator oferece um desempenho tão eficaz, que mais parece o registro sobre um menino desajuizado, imprudente e sem limites.
A história de amor de Sean Baker, vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes (2024), não é o que se espera e, ao mesmo tempo, é tudo aquilo que adoraríamos ver em um filme. É a volta de “Uma linda mulher”, do diretor Garry Marshall, da maneira mais caótica e imprevisível, mas sem perder a poesia. E para aqueles que sempre esperam por um “moral da história”, aí vai: “Mais vale um plebeu encantado do que um príncipe descartável”.
NOTA: 9,5
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