Há poucos dias, uma opinião de Anna Luiza Santiago dividiu a internet. Em sua coluna “Play” (O Globo), a jornalista deu nota zero para o desempenho de Paolla Oliveira como Helena Roitman em “Vale tudo”, remake escrito por Manuela Dias, alegando que o gestual da atriz está exagerado e que o excesso de elementos acaba atrapalhando.
É claro que, desde a estreia, criticar e apontar problemas na novela virou o esporte favorito dos noveleiros ou dos amantes da televisão. Enquanto alguns decidiram embarcar nas mudanças propostas pela autora, outros consideram um desrespeito com os criadores da obra original: Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.
Mas a questão é: por que a atriz recebeu uma nota tão baixa?
Tradição no jornal carioca, as notas zero e dez sempre causaram grande impacto. Até pouco tempo sob responsabilidade da jornalista Patrícia Kogut, em sua coluna de mesmo nome, essas avaliações repercutem (e muito!) dentro da TV Globo.
Interpretada por Renata Sorrah em 1988, Heleninha é, até hoje, lembrada com carinho e humor nas redes sociais. Complexa e repleta de nuances, a personagem foi desejada por Oliveira, como ela mesma já declarou em diversas entrevistas. Antes, alguns nomes chegaram a circular, como Leandra Leal e até Carolina Dieckmann, que acabou ficando com o papel de Leila. Mas, pouco tempo antes de iniciar as gravações, o martelo foi batido e a ex-rainha de bateria da Grande Rio conseguiu o que tanto almejava.
E é bom reforçar a expressão “pouco tempo antes”, pois, por mais competente que seja um ator ou uma atriz, é preciso tempo para compor um personagem tão denso e, acima de tudo, marcado na memória do público, que não costuma perdoar ao fazer comparações.
Como defesa, a coluna que zerou a atuação da atriz não dispõe de notas intermediárias. É o famoso “oito ou oitenta”. Provavelmente, a jornalista até daria uma nota maior, mas, dentro das regras do veículo para o qual escreve, algo que não esteja bom — ou que não esteja tão bom — recebe zero.
No que diz respeito a opinião deste colunista que vos escreve, Paolla Oliveira tem sim cometido alguns deslizes em sua interpretação. Há, de fato, um exagero no gestual, como se a personagem tivesse um tique nervoso ou um cacoete. Culpa da atriz? Não! Toda composição é feita em conjunto com o autor, o diretor artístico e o preparador de elenco. Por isso, essas hipérboles precisam ser revistas para que a personagem não caia no desgosto popular nem se torne motivo de chacota.
Oliveira não merece uma nota zero. É competente, já entregou ao público atuações marcantes, como a Vivi Guedes de “A dona do pedaço” (aliás, que saudade da Vivi!), e tenta encontrar em sua Heleninha a razão por essa mulher ser tão frágil e vulnerável. No entanto, por supervalorizar certos trejeitos, como se os espectadores não fossem capazes de assimilar o que, claramente, está subentendido, e por insistir em clichês amadores, comuns em personagens que exploram causas sociais, como o alcoolismo, ainda está longe de merecer um dez.