Neste ano, para comemorar os 60 anos da TV Globo, a emissora carioca decidiu desenterrar um de seus maiores sucessos dos anos 1980: “Vale tudo”. Criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a trama — que gira em torno da honestidade, ou da total falta dela — caiu nas mãos de Manuela Dias para ser repaginada. Deu certo? Bem, como diriam as gerações de antigamente, “isso são outros quinhentos”.
O fato é que a nova versão da obra de 1988, no ar desde 31 de março, vem acumulando mais críticas do que elogios — e menos espectadores do que outras novelas inéditas da casa. Resultado: os festejos pelos 60 anos estão tão apagados quanto os índices de audiência da trama.
No entanto, esse tipo de escorregão não é novidade na Globo. Em 1995, nos 30 anos do canal, “Irmãos coragem”, sucesso de Janete Clair em 1970, também ganhou um remake — que, digamos, passou longe de ser corajoso. Coube a Dias Gomes a missão de atualizar a história. A audiência, entre altos e baixos, até que compareceu. Mas o impacto, o frisson e o encantamento da primeira versão ficaram no passado, junto com os figurinos.
Naquela época, sem as redes sociais para o público despejar sua frustração, eram as revistas especializadas em TV que faziam esse papel e, por isso, tornaram-se verdadeiras bíblias nas bancas.
Aliás, o desastre de 1995 só não foi maior porque a Globo acertou em cheio ao estrear “História de amor”, de Manoel Carlos — sucesso que, não por acaso, está de volta no “Vale a pena ver de novo” —, e “A próxima vítima”, de Silvio de Abreu, que parou o país com uma lista de assassinatos baseada no horóscopo chinês. Duas tramas que, além de salvar os festejos de 30 anos do canal, tornaram-se referências na teledramaturgia nacional.
Então, a pergunta que fica é: quem vai, trinta anos depois, salvar os 60 anos da Globo? Pois, sejamos francos, sua principal aposta — sem trocadilho — não tem valido tudo.