Volta de “Tieta” escancara crise nas novelas atuais da Globo

De Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, trama retorna ao “Vale a pena ver de novo” nesta segunda

02/12/2024 às 15h59 Atualizada em 02/12/2024 às 22h28
Por: Flávio Melo
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Imagem: Acervo / Globo
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Em meio à crise das novelas, a Globo parece ter, mesmo que sutilmente, assumido sua culpa ao trazer de volta “Tieta” no “Vale a pena ver de novo”. Um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira, a trama, baseada na obra de Jorge Amado, foi escrita por Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, entre agosto de 1989 e março de 1990.

Recentemente, quando decidiu reexibir “Alma gêmea”, um dos grandes sucessos de Walcyr Carrasco, a emissora já dava sinais de que suas novelas atuais descontentavam não só o público, como também seus executivos. Comandado por Amauri Soares, o núcleo de folhetins da Globo passa por uma fase nada aplaudível, a ponto de afugentar cada vez mais seus fiéis noveleiros. Em um corte mais recente, é possível contabilizar inúmeros problemas que transformaram as recentes novelas em um reduto de contratempos.

O horário das 18h é um festival de “sobe e desce”. Uma completa gangorra quando se trava de números de audiência. “Mar do sertão”, de Mário Teixeira, teve protagonistas e vilões tão bem aceitos, que uma continuação foi encomendada: “No rancho fundo”. No entanto, apesar da boa resposta do público, ambas esfriaram com o passar do tempo. Na onda dos remakes, “Elas por elas”, atualizada por Alessandro Marson e Thereza Falcão, só conseguiu fisgar o telespectador em sua reta final. Diferente de “Amor perfeito”, de Duca Rachid e Júlio Fischer, que, do início ao fim, ofereceu uma história acolhedora. O mesmo aconteceu com “Além da ilusão” e, até aqui, com “Garota do momento”, da autora Alessandra Poggi. Ou seja, simplicidade e bons diálogos valem mais do que excessivos truques que descaracterizam a novela raiz.

No horário das 19h, os resultados são tão irregulares quanto. Exceto “Vai na fé”, de Rosane Svartman, que tornou-se um fenômeno, a enfadonha “Fuzuê”, de Gustavo Reiz, e a perdidinha “Família é tudo”, de Daniel Ortiz, apresentaram argumentos já vistos em outras produções. Aliás, se buscarmos em anos anteriores, veremos que o horário é o grande “calcanhar de Aquiles” da emissora. No ar atualmente, “Volta por cima”, de Claudia Souto, tem uma temática diferente das outras que a autora tentou, sem sucesso, trazer para a faixa. Repleta de clichês, a trama compensa com personagens carismáticos, texto leve e enredos que conectam.

E como não podia faltar, o horário das 21h, o mais promissor da casa, também passa por desacertos. “Pantanal”, de Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, mesmo com ritmo moderado e a ausência de cenas que marcaram a primeira versão (1990), como José Leôncio sendo encontrado sem vida pelos filhos, foi o último grande êxito da faixa. A deepfake prometida por Gloria Perez em “Travessia” não sobreviveu após os primeiros capítulos. “Terra e paixão”, equívoco de Walcyr Carrasco, diferentemente do que acontece com algumas novelas, que vivem na corda bamba, esteve o tempo todo em uma arena abarrotada de leões. Foram meses testando tudo o que era possível. Por fim, terminou sem deixar saudades. “Renascer”, também de Luperi, passou despercebida e colocou em xeque o talento do autor, por apenas adaptar as novelas do avô em vez de criar suas próprias histórias. Já “Mania de você”, de João Emanuel Carneiro, vale apostar em sua cura. Aliás, por falar em “vale”, “Vale tudo”, de Manuela Dias, vem aí. Mas isso são cenas para o próximo capítulo.

Com tantos “vai e vem”, fica claro porque a Globo precisa, urgentemente, reviver sua fase de ouro da teledramaturgia e trazer o passado para seu controverso presente. Enquanto isso, a emissora presenteia o público com reprises de sucesso.

Seja o que Deus quiser. Ou pelo menos o que o Amauri Soares permitir.

 

INSTAGRAM: @colunaflaviomelo

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Flávio Melo
Sobre o blog/coluna
Flávio Melo é jornalista, crítico de TV, streaming e cinema, podcaster, cronista e criador de conteúdo. No Instagram, sua coluna possui mais de 80 mil seguidores. É um dos idealizadores e apresentadores do "Pod tudo e + um pouco" - canal com mais de 11 milhões de visualizações no YouTube -, onde entrevista, semanalmente, celebridades de diversas áreas do entretenimento. Além de participações no “Link podcast” (Record Entretenimento), é um dos colunistas do programa “Tarde top” (Rede Brasil), apresentado por Nani Venâncio, e escreve para o portal "Super life Brasil".
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